O canário, como qualquer ser vivo, ingere alimentos para fazer funcionar seu organismo, isto é: para manter a temperatura do corpo, fazer o metabolismo funcionar, repor tecidos, trocar penas, se movimentar, se reproduzir, etc, etc.
São pássaros granívoros e, portanto, as sementes representam a parte mais importante de sua dieta, que deve ser complementada por uma ração, antigamente chamada de farinhada. Juntos, sementes e reação, devem prover e adequar os alimentos fornecidos às diferentes necessidades de nossos pássaros.
A composição e o balanceamento da mistura de sementes e seu necessário ajustamento a ser discutido neste artigo.
Alimentação X Fases da vida.
Como todo ser vivo, as necessidades de alimentos variam em função das fases da vida, da temperatura ambiente, do clima em que os canários vivem. Se estão em muda; a troca de penas é um processo extremamente penoso e crítico para os pássaros, exigindo elementos nutritivos especiais, suas necessidades são diferentes, por exemplo, da pós-muda, quando estão aguardando a nova estação de cria, se exercitando nas voadeiras, cantando, brigando entre si.
Durante a reprodução, a cria dos filhotes exige muito das fêmeas, que se estressam e ficam mais vulneráveis às doenças oportunistas.
De modo simples, podemos dividir em três, as fases em que os canários têm necessidades de alimentação distintas: Reprodução, Períodode Muda e Repouso.
Proteínas X Carboidratos X Lipídeos
Proteínas: São compostos nitrogenados, absolutamente necessários aos processos metabólicos de crescimento, reposição de tecidos, formação de matéria viva, massa muscular, esqueleto, muda de penas, etc. Suas necessidades em períodos de reprodução são críticas para o sucesso da criação.
Carboidratos: São os provedores de energia para o organismo, sendo necessários para prover calor, fazer funcionar o organismo, enfim, é o combustível da máquina chamada canário.
Lipídeos: São as gorduras, (graxas ou extrato de etéreo). São compostos com alta carga de energia (2,25 vezes mais que os carboidratos). É em forma de gordura que as aves e os outros animais armazenam energia no corpo para atender às situações de carência alimentar.
Composição Média das Sementes
Cada semente tem uma composição diferente de proteínas, carboidratos e lipídeos. Abaixo relacionamos as principais sementes encontradas no mercado brasileiro:
SEMENTES | PROTEINA % | CARBOIDRATOS % | LIPÍDEOS % |
Alpiste | 16,6 | 49,0 | 6,4 |
Colza | 19,6 | 18,0 | 45,0 |
Aveia | 11,3 | 68,4 | 8,7 |
Níger | 23,0 | 17,0 | 40,0 |
Nabão | 20,7 | 5,7 | 40,2 |
Linhaça | 24,2 | 25,0 | 36,5 |
Perila | 22,6 | 10,6 | 43,2 |
Cânhamo | 18,2 | 21,8 | 32,5 |
O alpiste é a semente mais importante na mistura. Sua composição de proteínas, carboidratos e lipídeos é a que mais se aproxima das necessidades normais dos canários. A qualidade de sua proteína, medida pelo balanço de aminoácidos e digestibilidade, é alta. O alpiste é essencial aos canários, e deve entrar na mistura de sementes com, pelos menos, 60% do total.
A níger uma semente muita apreciada pelo nossos pássaros, tem elevado teor de proteínas e gorduras. É usada normalmente como provedor de proteínas na mistura. Como tem altíssimo teor de lipídeos, sua participação deve ser limitada à 20% do total.
A colza é outra semente que, co0mo a níger, apresenta bom teor de proteínas e teor de gorduras bastante elevado (45%). Maurice Pomarède, estudioso francês de canários, alerta para a alta toxidês desta semente, recomendando restrições à seu uso. Outro cuidado é com relação à aquisição desta semente no mercado. Freqüentemente, vende-se semente de mostarda como se fosse colza, com prejuízos evidentes para a mistura.
A aveia é um excelente provedor de energia, muito rico em amido, e especialmente rico em lisina e cistina, dois dos principais aminoácidos essenciais. Deve ser utilizada no balanceamento da mistura como o principal provedor de carboidratos. O risco desta semente é a alta manifestação de fungos e outras formas de vida indesejáveis, que podem causar sérios danos à saúde dos pássaros.
A linhaça não é muito palatável para os canários. Tem alto teor de proteínas e lipídeos. Administrada durante o período de muda, tem efeito benéfico sobre a formação das penas.
Balanceamento das Sementes
A recomendação para nossos canários é que no período de reprodução, os teores de proteínas sejam mais elevados devido às necessidades dos filhotes, e os teores de carboidratos e lipídeos sejam menores, pois assim os canários serão levados à ingerir mais alimentos para atender à suas necessidades calóricas.
No caso oposto, no período de repouso, quando as proteínas são menos necessárias, as energias deverão ter seus teores elevados.
No período de muda, as gorduras são mais desejadas, pelo efeito positivo sobre a formação das penas, e deposição de lipocromo. Os grãos escuros (colza, níger, linhaça, cânhamo), usados sempre com parcimônia devido aos altos teores de gorduras em suas composições, ajudam nesta fase.
Relação Nutritiva
Um dos parâmetros muito usado no ajustamento dos alimentos às necessidades dos pássaros é a RelaçãoNutritiva (RN).
O que é Relação Nutritiva (RN)?
Nada mais é do que uma fórmula prática, extremamente simples, usada nos cálculos dos alimentos, que reflete os relacionamentos entre proteínas, carboidratos e lipídeos, adequando-se às fases da vida de nossos canários.
Existem outros métodos para balanceamento de rações, bem mais complexos e completos, porém, para efeito deste artigo, exemplificaremos o balanceamento apenas pelo fator RN.
Observando-se a fórmula, ela mostra exatamente isto que foi comentado: Mais proteína e menos energia no período de reprodução e menos proteína e mais energia no período de repouso. A muda, com RN=4 (limites: 3,5 a 4,5) deve ter os teores intermediários entre as outras fases.
A fórmula prática é a seguinte:
Quais são as necessidades? Ë recomendável que a relação R/N esteja o mais próximo dos seguintes valores:
Reprodução? RN = 3 (limites: 2,5 a 3,5)
Muda? RN = 4 (limites 3,5 a 4,5)
Repouso? RN = 5 (limites 4,5 a 5,5)
Traduzindo estes parâmetros para teores de proteínas, carboidratos e lipídeos, teremos o seguinte quadro:
PERÍODO | PROTEÍNAS (%) | CARBOIDRATOS (%) | LIPÍDEOS (%) |
REPRODUÇÃO | 16,0 a 18,5 | 40a 45 | 6,0 a 8,0 |
MUDA | 14,5 a 15,5 | 45 a 50 | 8,0 a 10,0 |
REPOUSO | 12,5 a 13,5 | 50 a 60 | 7,0 a 8,0 |
Comentários Importante:
Da simples análise do RN recomendado para o período de REPRODUÇÃO, (lipídeos entre 5,5 % e 7,5%), e da verificação dos teores de gordura das sementes, chegamos à conclusão que não há possibilidade de se obter com apenas as sementes, as proporções adequadas e desejadas.
O que fazer? Primeira conclusão: Há necessidade de se usar uma ração que, oferecida aos canários, equilibre os teores dos elementos discrepantes na mistura de semente. Como as rações comerciais para canários descrevem na embalagem os teores destes princípios nutritivos, basta calcular os teores da mistura de sementes, e assim definir que ração adquirir, em função dos elementos para balanceamento.
Como o período mais crítico é o da reprodução, e o teor de proteínas o princípio nutritivo mais importante mais importante nesta fase, o recomendado é calcular primeiramente a mistura levando-se em conta o teor de proteína, tentando manter o mais baixo possível os lipídeos.
Em seguida, determinaremos que parâmetros deverá conter a ração que vamos usar para completar a alimentação de nossos pássaros. Usando-se um programa simples de cálculo, e várias tentativas procurando obter uma mistura de sementes com proteínas entre 16,0 % e 18,5%, chegamos aos seguintes resultados para o período de reprodução.
Cálculo do Teor de Proteína:
SEMENTES | TEORPROTEÍNA NA SEMENTE | QUANTIDADE NA MISTURA | TEOR PROTEÍNAS NA MISTURA FINAL | MEMÓRIA DE CÁLCULO |
Alpiste | 16,5 | 700 | 11,6 | (1) |
Colza | 19,6 | 80 | 1,6 | (2) |
Níger | 23,0 | 130 | 3,0 | (3) |
Aveia | 11,3 | 70 | 0,8 | (4) |
Linhaça | 24,2 | 20 | 0,5 | (5) |
TOTAL | | 1000 gr | 17,5 % | |
Cálculo do Teor de Carboidratos Repetindo os cálculos como mostrados acima, somente trocando as colunas de proteínas pelas de carboidratos, teremos: Teor de Carboidratos = 43,2%.
Repetindo mais uma vez para os lipídeos, teremos: Teor de Lipídeos= 14,6%. Verificação da Relação RN: RN desejada (REPRODUÇÃO) = 3 (limites: 2,5 a 3,5)
O valor de RN está em 4,3. Porém o desejado é entre 2,5 e 3,5.
Examinando com cuidado os resultados da análise, verificamos que os parâmetros obtidos se comparam com os desejados da seguinte maneira:
| DESEJADO | OBTIDO | ANÁLISE |
PROTEÍNA | 16,0 A 18,5 % | 17,5 % | OK |
CARBOIDRATOS | 40 A 45 % | 43,2 % | OK |
LIPÍDEOS | 6,0 A 8,0 % | 14,6 % | Muito elevado ! |
Resumindo: Vamos necessitar de uma ração com teor de gorduras muito baixo, e teores de carboidratos e proteínas dentro dos limites acima indicados para o período de reprodução. Assim, oferecendo-a aos canários, junto com mistura de sementes acima, teremos a correção do teor de lipídeos, e conseqüentemente os parâmetros adequados às necessidades de nossos canários naquele momento.
Em caso de dificuldades em se encontrar uma ração com os parâmetros desejados, nos restam dois caminhos: recalcular a mistura de sementes, ou ajustar a ração por adição de elementos (nutrientes) que reduzam ou elevem os teores fora dos limites desejados.
Conclusão
O principal objetivo deste artigo foi mostrar que é importante destinar mais atenção à alimentação de nossos canários. A mistura de sementes escolhida deve ser adequada à ração que utilizaremos. Elas não podem ser tratadas de forma separada, pois são componentes indivisíveis da alimentação das aves.
Memória de Cálculo:
(1) 700 gr / 1000 gr X 16,5 % = 11,6 % Proteína
(2) 80 gr / 1000 gr X 19,6 % = 1,6 % Proteína
(3) 130 gr / 1000 gr X 23,0 % = 3,0 % Proteína
(4) 70 gr / 1000 gr X 11,3 % = 0,8 % Proteína
(5) 20 gr / 1000 gr X 24,2 % = 0,5 % Proteína