domingo, 23 de novembro de 2008

CUIDADOS COM OS FILHOTES

INCUBAÇÃO NATURAL Nascidos os filhotes em incubação natural, devemos verificar todos os dias se a fêmea os está tratando e alimentando. Caso não estejam sendo tratados podemos passa-los para uma ama-seca da mesma espécie, ou espécies diferentes, desde que seja comprovada sua atuação como mãe. Um bom exemplo são as fêmeas de manom.
Podemos manter estes filhotes na forma manual, fornecendo alimento caseiro ou comercial, sempre balanceados, 5 a 6 vezes ao dia. O filhote criado artificialmente deve receber alimentação muito boa, caso contrário seu desenvolvimento será menor que aqueles criados pelos pais ou ama-seca. Todos estes cuidados devem ser previstos antes do início da reprodução, para que não haja falha durante o processo.
Quando um filhote deixa de ser alimentado, é jogado para fora do ninho, ou após a troca para ama-seca, pode se apresentar frio, desidratado, com hipoglicenia, e dificilmente pede comida. Filhote que não pede alimento, os pais deixam de tratar4. O filhote ainda com os pais deve receber glicose no bico e soro (utilizar agulhas de insulina), até que se restabeleça a saúde, e peça alimento. Caso não esteja sendo tratado, devemos aquece-lo em lâmpada ou bolsa de água quente, e alimenta-lo com soro e glicose inicialmente, passando para o alimento em forma de papa. Muito cuidado para não asfixiar o filhote com líquidos ou excesso de alimento de uma vez. Use colheres de tamanhos compatíveis com o pequeno bico do filhote.
As aves com 20 a 30 dias de vida não controlam a temperatura corpórea, pois o sistema termorregulador ainda estão em desenvolvimento. O empenamento nesta fase está quase totalmente formado, mas ainda auxilia pouco no aquecimento da ave.
Todo este acompanhamento dos filhotes segue procedimentos básicos que devem ser esperados a qualquer momento, Estes procedimentos são definidos na dependência de cada problema. Algumas atuações de emergência realizadas nos filhotes são:
1.Hipotermia: Os filhotes tornam-se frios, com pequena ou nenhuma movimentação, com pouca reação ao estímulo de alimentação, respiração lenta, cabeça caída. Podemos utilizar diversas formas de aquecimento: lâmpadas de 15 a 40 w, tendo-se o cuidado de não deixar ao alcance das aves para não se queimarem por contacto. Gaiolas aquecidas, ou bolsa de água quente (a temperatura da bolsa ideal deve ser testada colocando em contacto com o dorso da mão de uma pessoa, sem sentir ardor); ou mesmo aquecedores podem ser usados. Procure manter a temperatura local entre 35 a 37 0 C. Caso a temperatura fique muito alta o filhote se afasta da fonte de aquecimento, e torna-se ofegante. Existem lâmpadas com vidro fosco para que o seu brilho não ofusque os olhos dos pequeninos, principalmente em aves que já nascem de olhos abertos, como o caso de galináceos, cracídeos e tinamídeos, e outros.
Desidratação: A ave desidratada mantém a pele seca e repuxada, a penugem seca em volume, respiração cansada. Soluções de soro por via oral poderão ser administradas com muito cuidado para não afogar o filhote. O soro caseiro ou soro comercial pode ser administrado no voluma adequado, sendo diluído diariamente, e fornecido a cada 1 ½ hora. O soro caseiro para aves deve ser feito na dose de 1 colher de café rasa de sal, 2 colheres de chá de açúcar em 1 copo de 200 ml de água filtrada. Os soros comerciais ideais são os recomendados
Como anti-estressante para aves (Ernestid: 2 gramas em 1 litro de água. Hidratação injetável pode ser feita com Ringer lactato por via subcutânea ou endovenosa, sendo o cálculo realizado da seguinte forma:

HIDRATAÇÃO

Cálculo Geral
Deficiência de fluido (ml) = peso vivo (gramas)x 0,10
Manutenção= 50ml/Kg de peso vivo/dia
Administração
50% da deficiência + manutenção nas primeiras 24 horas
50% da deficiência + manutenção nas próximas 48 horas
Dose
Adulto 1/3 diário três vezes ao dia
Filhotes e aves debilitadas 1/10 a 1/5 de 11/2.

EXEMPLOS
Papagaio (adulto 300 g)
Peso vivo: 300 g
Deficiência de fluido (ml)=300x0,10=30ml
Manutenção=50ml/Kg equivale a 15ml/300g/dia (por regra de três)
Administração
50% da deficiência + manutenção nas primeiras 24 horas:15 + 15 = 30 ml
50% da deficiência + manutenção nas próximas 48 horas: 30 ml
Dose
Adulto 1/3 diário três vezes ao dia=10ml três vezes ao dia
Ave debilitada: 1/10 a 1/5 de 1 e ½ h=1,0 a 1,5 ml de 1 e ½ h
Filhotes (100g de peso vivo): 0,3 a 0,5ml de 1 e ½ hora
Repetir a dose nos próximos 2 dias caso seja necessário.

CANÁRIO E CURIÓ adulto (30g)
Peso vivo 30 g
Deficiência de fluido (ml)=30x0,10=3 ml
Manutenção=50ml/Kg equivale a 1,5ml/30g/dia (por regra de três)
Administração
50% da deficiência + manutenção nas primeiras 24 horas: 1,5 + 1,5=3,0 ml
50% da deficiência + manutenção nas próximas 48 horas: 1,5 + 1,5=3,0 ml
Dose
Adulto (via oral) e ave debilitada: 1/10 a 1/5 de 1 e ½ h= 0,3 a 0,5 ml de 1 e ½ h (6-10 gotas)
Filhotes (10g de peso vivo): 0,1 a 0,2 ml de 1 e ½ hora (2 a 4 gotas)

Hipoglicenia: Em casos de hipoglicenia, de fraqueza, tanto dos filhotes, como de adultos, fornecemos glicose a 50% na dose de 2ml/kg por via endovenosa (EV), podendo ser administrada via intramuscular diluída a 5%. Caso haja impossibilidade de se utilizar a via injetável (EV), podemos fornecer a glicose por via oral (VO) na dose de 2ml/Kg quatro vezes ao dia.
Exemplo:
Papagaio adulto (peso vivo 300g): a dose será 0,6 ml EV e VO.
Canários, curiós, diamantes (peso vivo 30g): a dose será 0,06ml EV e VO (equivalem a 1,2 gotas de conta gotas e 7 gotas com agulha de insulina).
Bicudos, periquitos, agapornis (peso vivo médio 50g): a dose será 0,1 ml EV e VO (equivalem a 2 gotas de conta-gotas e 12 gotas com agulha de insulina).

Febre: Como consideramos a febre uma reação positiva da resistência do paciente a doença, não indicamos em nossa prática o uso de antitérmicos. Analisamos suas reações associadas a febre e ao estado geral, e procuramos a causa. Caso haja interesse em aplicar antitérmicos recomendamos primeiro que medique com remédio homeopático, dando preferência ao medicamento específico do quadro agudo. Segundo, poderemos usar Belladona, Aconitum, Ferrum phosphoricum, Gelsemium, ou Chamomilla. O medicamento alopático antitérmico é o AAS ou a Aspirina tamponados, por no máximo 2 dias. Colocar a ave em local fresco, sem vento, recebendo alimentação leve, com muitas frutas, legumes e verduras. Providenciar a hidratação oral ou injetável.

Choque: Na emergência poderemos medicar com dexametasona na dose de 5mg/Kg IM ou succinato de predinisolona na dose de 20-30mg/Kg IM, com aplicação de soro EV, se possível.

Alimentação: Os filhotes geralmente necessitam de uma alimentação com níveis de 24% de proteína. As características dos alimentos devem ser: consistência macia, de fácil digestão, paladar apetitoso, geralmente encontradas em casas comerciais para animais, são alimentos especializados para filhotes no ninho. As aves do tipo passeriformes pedem alimento várias vezes ao dia, na dependência da facilidade da digestão, da qualidade e da quantidade de alimento ingeridos em cada refeição. Algumas aves de porte maior, podem ser alimentadas através de tubo macio e flexível introduzido até o papo, cujo volume a ser administrado dependerá da espécie.

Teoricamente um filhote de ave que não se alimentasse por 6 horas ficaria muito mal. Na prática, aves deixadas com pais displicentes, tem sobrevivido após adotarmos todos os cuidados posteriormente de hidratação, aquecimento e alimentação. Na primeira semana a ave possui ainda a reserva do saco vitelínico, que o auxilia na sua nutrição até 7 dias.

Outro problema na alimentação de filhotes são as formas de administração. Devemos usar colheres com a concha adaptada para cada tamanho de ave, e o cabo longo adaptado a mão dos tratadores, de forma que não haja risco de escorregarem e serem engolidas, principalmente por araras, e tucanos. Aconselhamos que usem colheres de material descartável, ou resistente, que possam ficar de molho em solução de cloro após alimentar cada ave, ou cada ninhada. Usar várias colheres, pois terão um tempo para serem desinfetadas antes de serem reutilizadas, evitando-se assim a propagação de doenças transmitidas pela saliva. Prepare o alimento dos filhotes. Retire o volume utilizado para alimentar cada filhote ou ninhada e coloque em um copo pequeno, deixando o restante em repouso em local seco e fresco. Assim que terminar de alimentar esta ave, descarte a colher e o copo em solução de cloro, utilize uma nova dupla de utensílios par a outra ave ou ninhada. No mercado existem colheres plásticas pequeninas, usadas para mexer café. Podemos substituir este copo descartável, distribuindo pequeninas porções de alimento ao redor de um pires amplo, sem mistura-los.

RESUMO PARA AÇÕES DE EMERGÊNCIA
(mantenha este quadro sempre a vista):

Temperatura: 35 a 37,50C
Hidratação: Ringer lactato subcutâneo (1 a 3ml/100g de peso vivo) na prega da asa ou abaixo do pescoço, ou dose oral (3 a 10ml/100g de peso vivo).
Glicose: 5% de glicose em fluidos injetáveis ou 20% nos fluidos orais.
Choque: dexametasona (5mg/kg IM) ou succinato de predinisolona (20-30mg/kg IM), com aplicação de soro EV, se possível.

CUIDADOS PEDIÁTRICOS
Uma ação que estimula a fêmea e/ou o macho a alimentar seu filhote são os piados que estes emitem até estar saciado pelo alimento. Quando o filhote não pede este alimento, podemos tirar algumas conclusões:
Imaturidade da fêmea como mãe;
Existe doença na fêmea ou no filhote;
Alguma deformidade física do filhote;
Ambiente estressante (ruídos, pessoas estranhas, animais estranhos, etc);
Falta do macho, que muitas vezes auxilia no trato;
Ninho errado, em forma, ventilação, luz, material para construção;
Calor ou frio.

A fêmea tenta estimular o filhote, quando este não responde, ela simplesmente o elimina bicando ou jogando para fora do ninho. Ás vezes encontramos filhotes mortos amassados dentro do ninho, junto com os filhotes vivos, sem que com isto a fêmea fique incomodada.

Nestes casos de fraqueza do filhote devemos aquece-los com uma bolsa de água quente coberta por uma toalha (teste a temperatura da bolsa no dorso da mão). Dê o medicamento diretamente no bico usando agulha de insulina. A, glicose a 25% é fornecida na dose de 2 gotas de 11/2 e 1 ½ hora, ou menor tempo. Quando tiver alguma reação, tentar devolve-lo para o ninho. Fique alerta, pois caso a mãe rejeite novamente o filho, ela pode até mata-lo. Neste caso de rejeição podemos coloca-lo em uma ave ama-seca, ou da mesma espécie ou espécie diferente, que esteja em reprodução, com as características físicas desta época. Muitas vezes temos que ajudar a ama-seca ou a mãe nova a alimentar o filhote com papinha própria, cujos nutrientes são formulados para filhotes, o que consome muito tempo e trabalho.

Alguns casos em que os pais não tratam bem os filhotes, estes poderão permanecer nos ninhos, assim apenas auxiliamos a alimentação algumas vezes ao dia. Este método faz com que o filhote receba alimentos também dos pais, fornecendo anticorpos, e enzimas digestivas. Estes casos geram filhote mais fortes do que aqueles criados apenas artificialmente. No Caso do filhote já ter saído do ninho, mas não se alimentar direito, separe a gaiola, coloque poleiros próximos da divisória dos dois lados e observe, os pais continuam tratando os filhotes, mas sem que estes invadam seu espaço.

O filhote somente alimentado artificialmente deve permanecer em local ou gaiola aquecidos, por duas lâmpadas de 40W de feixe fosco, mantendo 370C, e tomando-se o cuidado para não ter chance de encostar na lâmpada. Esta tarefa ocupa muito tempo e dedicação. Dependendo da espécie terá de ser alimentado de 2 a 4 horas por dia. Quando as aves são muito jovens, este período deve ser reduzido de 1 em 1 hora e as temperaturas deverão ser de 32-350C. No caso de beija-flores o período de alimentação pode chegar até 30 em 30 minutos. O alimento deve ser servido sempre morno.
Enquanto o filhote come devemos limpar o alimento que gruda na apenas antes que resseque. Limpar a região da boca do filhote com cotonetes, para não acumular e fermentar esta comida até a próxima refeição.

O alimento próprio para filhotes, pode ser encontrado em grandes magazines de alimentos para animais, ou então preparado em casa. Fazer uma farinha com a mistura de: 60% de milharina (farinha de milho p’re cozida e fina), 30% de Neston (produto floculado com cereais: aveia, cevada e trigo, adoçado), 10% de leite em pó.

Esta farinha pode ser armazenada, sempre em local fresco e seco. Na hora de preparar o alimento, misture:
3 colheres de farinhada, 1 gema cozida, papinha de frutas ou vitamina de frutas até dar a consistência boa para cada filhote.
Acrescente 1 gota de suplementos vitamínicos (Protovit infantil) 3 vezes por semana, 1 ou 2 gotas de Calcigenol por dia.

Fazer o alimento todos os dias na primeira refeição e guardar em geladeira. Após a mistura com frutas e ovos, este alimento não pode ser armazenado em geladeira por mais de 18 horas.

Quanto às doenças, são muito variadas nesta fase da vida. Alguns criadores utilizam antibióticos e antifúngicos para prevenir. Nós não recomendamos, pois desde que os pais tenham recebido manejo e alimentação adequados, imunizados e controlados para doenças e parasitas, os filhotes continuarem recebendo cuidados especiais, este não precisará de medicamentos para viver. Todo criador que mantém estas normas básicas de criação e manejo, não utiliza antibióticos nesta fase de filhotes. Os órgãos das aves estão em maturação e podemos afeta-los irremediavelmente, principalmente no que diz respeito a reprodução futura. O ideal é procurar orientação ao sinal de qualquer sintoma anormal, que pode ser digestão difícil, diarréia, perda de apetite, sonolência, etc.

TABELA: Capacidade do papo e volume de líquido que pode ser administrado para um filhote a cada 1 e ½ hora.

Espécie da ave e peso vivo médio (g)Capacidade do papo do adulto ( em ml)Volume (ml) administrado para adultosVolume administrado para filhotes a cada 1 e ½ hora depende do peso (10g)Volume administrado para filhotes a cada 1 e ½ hora depende do peso (10g)
MLMLgotas/conta-gotas
Canário – 30g0,25-0,50,3-0,50,1-0,22-4
Periquito – 60g0,5-100,6-1,00,2-0,44-8
Arara-800g20-306,0-120,8-1,516-30
Cacatua-500g20-304,0-7,50,4-0,758-15
Papagaio-300g10-151,0-1,50,3-0,56-10
Agapornis-50g2-50,4-0,750,04-0,075gotas de insulina
Curió-30g0,3-0,50,3-0,50,1-0,22-4
Bicudo-30G0,5-0,80,4-0,750,04-0,75gotas de insulina

Observação: 1 ml equivale a 20 gotas de conta-gotas, cada gota de conta-gotas equivale a 6 gotas com agulha de insulina – 120 gotinhas

TABELA: Sugestão de volume e freqüência para alimentação através de tubo, para aves anoréxicas.

Espécies de aveVolume (ml)Freqüência
Periquitos0,5 – 1,0 mlQuatro vezes dia (QID)
Calopsitas1,0 – 2,5 mlQID
Aratingas2,5 – 5,0 mlQID
Papagaios5,0 – 8,0 mlTrês vezes dia (QID)
Cacatuas8,0 –12,0 mlDuas vezes dia (BID)
Araras10,0 – 20,0 mlBID

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